INTERNAMENTO INVOLUNTÁRIO: Como o meu filho vai reagir?

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Curitiba, 13 de fevereiro de 2021, escrito por Gilson Rodrigues. Para os pais sempre é bastante difícil descobrir que um filho está se tornando usuário de drogas, principalmente durante a fase mais complicada de sua vida, a adolescência. O internamento involuntário é uma medida que deve ser tomada para sua recuperação, quando outras tentativas falharam. Mas, como o adolescente vai reagir a essa condição?

Antes de tomar essa decisão, no entanto, os pais precisam saber como funciona uma clínica de recuperação e como os usuários de drogas ali internados são conduzidos. Como se trata de um ambiente restrito, certamente ficam muitas dúvidas e as mais diversas perguntas passam pela cabeça dos pais, como, por exemplo, qual é o tipo de tratamento oferecido e quais são as possibilidades de um filho adolescente se recuperar do mundo das drogas.

Para quem tem um filho que está passando por esse tipo de problema, o internamento pode parecer uma medida radical, mas é preciso ter consciência de que se trata de um ato de amor, que busca reconduzir o usuário de drogas a um novo caminho, superando todos os problemas e condições apresentadas e se reconduzindo a uma vida normal.

As reações que podem surgir quando um filho adolescente é internado contra a vontade podem ser de revolta contra os pais em um primeiro momento, porém, a partir da sua conscientização de que as drogas só estão provocando danos, tanto físicos quanto mentais, sua postura certamente será outra: irá entender que o internamento involuntário foi aplicado para seu próprio bem.

Internamento involuntário

Uma clínica de recuperação é uma instituição especializada em ajudar dependentes de drogas, lícitas ou ilícitas, a se recuperar e superar os diversos problemas e doenças por elas provocadas.

A equipe de uma clínica é formada por profissionais especializados, como psiquiatras  e médicos, enfermeiros e psicólogos, além de terapeutas, que estão sempre prontos para atender os pacientes, ajudando-os a superar a dependência química e os problemas causados pelas drogas.

De uma forma geral, clínicas de recuperação ficam instaladas em locais mais reservados, com acesso restrito, garantindo a discrição e, principalmente, criando um ambiente próprio para a recuperação, com muita tranquilidade, longe dos burburinhos urbanos.

As instalações oferecem acomodações e serviços de internamento, oferecendo todos os cuidados necessários, garantindo um tratamento eficiente, não importando o grau de dependência de cada paciente.

Para os pais, portanto, o importante é saber que, diante da necessidade de um tratamento, o seu filho será bem cuidado durante o tempo em que permanecer na clínica. Além disso, é necessário ter consciência de que a dependência química é uma doença crônica, que só tende a piorar se não for cuidada a tempo.

Se, há algum tempo, a dependência química era considerada como falha de caráter ou a presença de algum transtorno psiquiátrico, essa forma de ver o problema está totalmente mudada. A dependência é, sim, uma doença e, portanto, exige um tratamento sério e personalizado, exigindo, em certos casos, o internamento, mesmo que involuntário.

O fato de tomar a decisão e encaminhar um filho adolescente envolvido com drogas para uma clínica, portanto, é um procedimento necessário e, nesse caso, o mais importante é saber que a pessoa pode ser recuperada, mesmo que suas reações sejam de revolta quando da internação.

Quando o filho dependente químico se mostra disposto a ser tratado, sabendo que a clínica irá ajudá-lo em seu processo de recuperação, tudo se torna mais simples e o tratamento pode ser feito de imediato. No entanto, nem sempre as coisas funcionam dessa forma e, muitas vezes, o internamento involuntário é a medida certa a ser tomada.

Em uma clínica de recuperação, os procedimentos envolvem a psicoterapia e todos os cuidados exigidos para que o paciente passe pelo processo de desintoxicação e supere os sintomas da síndrome de abstinência. Assim, tudo o que o paciente precisa para se recuperar é fornecido por profissionais capacitados.

Além disso, o tratamento é aplicado de acordo com cada paciente, analisando tempo que faz uso de drogas e o seu grau de dependência. Cada caso, portanto, é estudado de forma individual para que o paciente chegue aos resultados desejados.

A crise de abstinência é tratada com o internamento

Quando um filho se torna dependente de drogas, muitas alterações ocorrem em seu organismo, principalmente a partir do momento em que a dependência química se torna mais grave. Para passar por um processo de desintoxicação, nesses casos, é necessário o internamento involuntário, uma vez que o adolescente irá sofrer com a ausência das drogas, tanto física quanto mentalmente.

Para o paciente, o processo de desintoxicação é uma das etapas mais difíceis durante o tratamento. O organismo desenvolve o hábito de consumir drogas e se ressente com sua falta. Os sintomas de uma crise de abstinência, dependendo do grau de dependência, são severos, apresentando desde crises de ansiedade, passando por desconforto físico e alterações orgânicas, como aumento da pressão arterial, por exemplo.

Para o filho dependente de drogas é praticamente impossível deixar de consumir as substâncias por conta própria, sem um internamento. Esse processo, portanto, deve ser acompanhado por profissionais capacitados para se chegar a um bom resultado.

Com a internação em uma clínica de recuperação, mesmo que as reações do filho sejam de revolta, ele estará tão bem cuidado como se estivesse em sua própria casa. O processo de desintoxicação é uma etapa em que o paciente irá limpar o organismo, reduzindo os sintomas da crise de abstinência, podendo, a partir daí reabilitar-se física e psicologicamente, já que o processo consiste em eliminar toda a substância de seu organismo de uma forma controlada e segura.

Existem pacientes que, em razão de um grau de dependência maior, devem ser cuidados de forma especial, inclusive com alimentação diferenciada para que a desintoxicação seja suportável, evitando os sintomas mais graves da abstinência e esse tipo de cuidado só pode ser aplicado através de um nutricionista capacitado para o procedimento.

O papel dos pais na recuperação de um filho dependente

Um dos pontos básicos para qualquer pai ou mãe é manter os filhos saudáveis e em condições de enfrentar os obstáculos da vida e superá-los de maneira eficiente. Portanto, mais do que pensar apenas em como o filho dependente químico vai reagir no caso de um internamento involuntário, é preciso analisar sua necessidade de tratamento.

Geralmente, os pais descobrem a dependência química em uma fase mais avançada, obrigando a tomar medidas mais contundentes, principalmente porque os dependentes químicos em fase avançada normalmente não concordam com um tratamento voluntário.

Assim, a posição dos pais é essencial para ajudar na recuperação de um filho dependente químico, principalmente se ele está na adolescência, uma fase da vida em que a criança está se transformando em adulto e, portanto, está passando por novas experiências.

Um dos principais motivos que levam o adolescente a consumir drogas é a curiosidade. Contudo, como o adolescente ainda não sabe as consequências, depois de algum tempo é levado a desenvolver a dependência química, condição que o obriga a consumir maiores quantidades para conseguir os mesmos efeitos que antes obtinha.

Podemos lembrar que uma das principais maneiras de prevenir o uso de drogas é oferecendo bons exemplos. Contudo, com a facilidade de acesso, como vemos atualmente, mesmo com bons exemplos na família um adolescente pode ser levado pela sua curiosidade.

Assim, antes de qualquer coisa, os pais devem se considerar isentos de culpa, quando descobrem que o filho está consumindo drogas, tomando as atitudes corretas. Se houver necessidade de internamento involuntário, é preciso aplicar o procedimento.

Um dos fatos que se constata é que, entre cada dez adolescentes que fazem uso recreativo de drogas, pelo menos um acaba se tornando dependente e a dependência química deve ser considerada como uma doença que pode levar à morte.

O papel dos pais, diante dessa situação, deve ser de acordo com o exigido. Se houver necessidade de um tratamento através da internação dependente químico, a decisão deve ser rápida. Se o filho, por outro lado, entender e aceitar que precisa de tratamento, dependendo de seu grau de dependência, os procedimentos podem ser aplicados em ambulatório, não havendo a necessidade de ausentar-se da família.

Reagir de uma forma negativa não vai ajudar o dependente químico a se recuperar, mesmo porque um filho adolescente não está totalmente maduro e, assim, não sabe os problemas que poderá enfrentar no futuro se continuar consumindo drogas.

Os pais devem se manter alertas com relação aos filhos

Para evitar que um filho se torne dependente químico é essencial que os pais deem a atenção necessária ao seu comportamento e a possíveis alterações em sua forma de agir. As mudanças podem começar por amigos, pela redução no rendimento escolar, pelo seu comportamento dentro de casa e pelo seu gradual afastamento do convívio familiar.

Ao observar alterações significativas, é necessário conversar com o adolescente, falando francamente sobre o assunto e buscando saber que tipo de droga ele está usando.

Um adolescente, por exemplo, que fuma maconha eventualmente ou que toma bebidas alcoólicas  sem exagero, pode não ter o comportamento alterado. No entanto, a partir do momento em que ele se esquiva de conversas mais francas e abertas, é preciso entender essas alterações e, havendo a constatação de uso de drogas, procurar ajuda profissional.

Caso o filho não aceite ajuda profissional, para que possa se livrar da dependência química é necessário um internamento, mesmo que involuntário, uma vez que, somente assim ele poderá retomar uma vida normal e saudável.

O tratamento em uma clínica de recuperação pode ser aplicado tanto em adolescentes quanto em adultos e cada procedimento é aplicado de acordo com o grau de dependência e com a faixa etária.

Contudo, é importante entender que um adolescente precisa de cuidados especiais, já que está em uma fase de desenvolvimento e amadurecimento e, em razão disso, vai precisar de muito mais apoio dos pais e familiares para entender sua necessidade de tratamento.

Nos casos em que for necessário o internamento involuntário, o jovem tem necessidade de entender a posição dos pais para que não reaja de forma adversa e contrária ao tratamento. A conversa, portanto, deve ser franca e sincera, mostrando os dados que as drogas podem causar e fazendo com que ele entenda que a posição tomada é para o seu bem.

Os profissionais da clínica de recuperação oferecem apoio para esses casos, principalmente quando o adolescente já está em fase mais avançada de dependência, entendendo suas necessidades e fazendo com que ele tenha um tratamento individualizado, de acordo com sua condição física e mental.

Os pais devem entender ainda que um tratamento em clínica de recuperação não é uma garantia de que, no futuro, o filho não terá qualquer recaída. Assim, também é essencial que, mesmo após a liberação do tratamento, os cuidados devem ser mantidos para que o adolescente não volte a consumir drogas.

As possibilidades de que um adolescente não volte a usar drogas são bastante grandes após o tratamento com internamento involuntário, mesmo que isso seja muitas vezes contestado. Mas, para que se consiga bons resultados, a presença dos pais é extremamente significativa, tanto durante o tratamento quando depois dele.

Nesse caso, também é necessário que os pais tenham a devida orientação, seguindo as recomendações dos profissionais responsáveis pelo tratamento. Assim, por exemplo, é preciso que os pais acompanhem o filho com cuidado, evitando qualquer possibilidade de que volte a usar drogas, porém sem sufocar o adolescente em excesso.

O adolescente, depois de passar pelo tratamento, deve ter todo o apoio necessário para retornar à sua vida normal, voltando aos estudos e dando atenção à sua formação, mas não pode receber condescendência por parte dos pais. Ou seja, ele deve encarar a vida com responsabilidade.

Dessa forma, é fundamental oferecer carinho e apoio, mas, ao mesmo tempo, estabelecer regras que devem ser seguidas. Se o adolescente não sentir que está sendo apoiado para continuar com sua vida, pode voltar-se novamente para o consumo de drogas, em busca de suprir suas necessidades afetivas.

Adolescência, uma fase perigosa

Podemos entender, portanto, que a adolescência é uma das fases mais perigosas da vida de qualquer pessoa. Ao mesmo tempo em que os hormônios estão agindo com toda a força, o adolescente não percebe que precisa de cautela e consciência para tomar determinadas atitudes.

O consumo de drogas, nessa fase da vida, vai causar ainda mais danos do que em um adulto que começa a usar substâncias psicoativas.

Mesmo drogas consideradas menos graves, como a maconha, por exemplo, provocam sérios danos no cérebro do adolescente. A maconha provoca taquicardia e dilata as veias, causando euforia no primeiro momento e, em seguida, sonolência e depressão.

O usuário, ao longo do tempo e com a continuidade do consumo, pode passar por crises de ansiedade, síndrome de pânico e ter alucinações. Na escola, terá sua atenção reduzida e seu comportamento pode apresentar irritabilidade, problemas de insônia e ansiedade, gerando déficit de atenção, além de graves problemas pulmonares.

Drogas mais pesadas, como o crack e a cocaína podem causar redução do sono e do apetite, além de irritabilidade e paranoia. Com o consumo continuado, as drogas podem causar graves problemas cardíacos, inclusive com convulsões.

O internamento involuntário é uma medida extrema, podendo causar, nos pais, a sensação de culpa por não terem percebido que o filho estava consumindo drogas, mas essa sensação deve ser evitada a todo custo.

As pessoas, mesmo na adolescência, devem ser vistas como responsáveis por seus atos e, portanto, um adolescente deve ser visto como um indivíduo que deve arcar com a consequência de suas ações.

Assim, ele deve ser conscientizado de que não está fazendo bem para seu futuro, além de estar causando graves danos para sua saúde. Havendo necessidade de internamento involuntário, os pais devem saber que essa medida é uma forma de demonstrar amor e, portanto, não deve haver maiores preocupações com relação à sua reação diante do fato.

Procurar ajuda profissional vai ajudar no processo de compreensão da necessidade de tratamento e fazer com que os pais possam tomar a atitude correta com relação ao filho adolescente que se tornou dependente de drogas.

O que deve ser evitado é buscar resolver o problema por si mesmos, uma vez que cada adolescente apresenta suas características pessoais, que devem ser cuidadas de forma individual.

O momento da descoberta terrível de que o filho está consumindo drogas deve ser superado com calma e tranquilidade. Afinal, ainda não é o fim do mundo, mas sim um momento em que a situação deve ser mantida sob controle, buscando a melhor solução para o problema.

A atitude certa tomada no momento certo irá fazer com que o adolescente retorne à sua vida normal, mantendo-se dentro dos padrões aceitáveis pela sociedade.

 Se você tem algum familiar que não aceita ajuda, procure o tratamento e encontre uma empresa de resgate dependente químico. O dependente, no futuro, vai agradecer.

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Gilson Rodrigues de Siqueira

Formado em enfermagem, pós graduado, palestrante em dependência química, diretor e proprietário da Brasil Emergências Médicas, Visão Tattoo e escritor nas horas vagas.